sexta-feira, 6 de maio de 2011

Pensando...



Os homens temem o pensamento mais do que qualquer outra coisa sobre a Terra – mais do que a ruína, mais do que a própria morte. O pensamento é subversivo, revolucionário, destrutivo e terrível; o pensamento é impiedoso com os privilégios, com as instituições estabelecidas e os hábitos cômodos; o pensamento é anárquico e sem lei, indiferente à autoridade, displicente com a comprovada sabedoria dos séculos. O pensamento olha para as profundezas do inferno e não se amedronta. Vê o homem, frágil ponto cercado de insondáveis abismos de silêncio, e ainda assim sustenta-se gloriosamente, tão impassível como se fosse o senhor do mundo. O pensamento é grandioso, ágil e livre, a luz do mundo e a principal glória do homem.


É preciso que o pensamento se torne propriedade de muitos, e não privilégios de poucos. Porém, o medo detém os homens - medo de que suas crenças acalentadas se revelem desilusões, medo de que as instituições por que pautam suas vidas se revelem danosas, medo de que eles próprios se revelem menos dignos de respeito do que se supunham ser. Deve o trabalhador pensar livremente sobre a propriedade? Então, o que acontecerá a nós, os ricos? Devem os homens pensar livremente sobre o sexo? Então, o que será da moralidade? Devem os soldados pensar livremente sobre a guerra? Então, o que será da disciplina militar? Fora com os pensamentos! Voltemos à obscuridade do preconceito, para que a propriedade moral e a guerra não fiquem em perigo! É melhor que os homens sejam parvos, preguiçosos e oprimidos, do que sejam livres seus pensamentos. Pois, se seus pensamentos fossem livres, eles poderiam não pensar como nós. E essa desgraça deve ser evitada a qualquer preço. Assim argumentam os opositores do pensamento nas profundezas de suas almas. E assim agem em suas igrejas, suas escolas e suas universidades.


Bertrand Russell

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