segunda-feira, 26 de outubro de 2009

É legal estar morto


Finalmente consegui assistir esse filme, depois de 2 desencontros com o HSBC Cultural, acabei desistindo e só ontem fui ver, graças ao DVD bombástico que o Twingo gravou.

Fiquei com preguiça de fazer as legendas funcionarem, então acabei assistindo sem elas mesmo, foi uma experiência diferente. Fazia muito tempo que não via um filme inteiro sem legendas, e ter entendido 95% de tudo me fez sentir bem em relação ao meu conhecimento de inglês, mas o bacana mesmo foi que assisti ao filme deitado, com o fone de ouvido que comprei há pouco tempo (com a intenção de treinar baixo, mas acabo usando mais pra ouvir música e jogar, já que o desgraçado tem um som fenomenal) e foi demais ouvir toda a narrativa, como se eu estivesse mesmo ouvindo as fitas da gravação original. Até as conversas telefônicas cheias de rúido e estática ficaram bem claras.

O filme é muito bem editado, as cenas escolhidas para acompanhar a narração dos fatos foram bem montadas, direção de fotografia impecável. Agora, eu acho que o filme é pra quem é muito fã de Nirvana (meu caso), muito fã do Kurt Cobain (meu caso) ou pra quem tem real interesse sobre crises, depressão e transtornos psicológicos em geral (meu caso).

Várias passagens do filme mostram um lado que não foi tão martelado pela mídia sobre o Cobain, por exemplo, sempre meio que endeusaram o cara. Mas no filme ele até diz algo que muitos devem ter taxado como "atitude de cuzão", quando diz que os outros dois parceiros de banda não mereciam receber grana em partes iguais a dele, porque não compunham em partes iguais. Isso me assustou também, confesso. O fato dele não se sentir a vontade pra ser engraçado perto do Novoselic também achei estranho...se não fosse ele próprio dizendo essas coisas eu jamais acreditaria.

O filme é triste, mas não sensacionalista. A história toda do Kurt/Nirvana é bem triste, tudo que fizerem sobre eles dificilmente vai ter uma aura de ultra alegria, e é isso que eu tanto gosto neles.

Depois do filme parei pra refletir sobre a importância que esses caras tiveram na minha vida, foi algo bem forte mesmo. Acho que quase todo mundo (que realmente vive e respira música) tem uma banda que transformou sua vida. Pra mim foi o Nirvana. Eu cresci ouvindo The Doors, Pink Floyd, Raul Seixas e Led Zeppelin no toca discos do meu pai, eu curtia bastante. Mas a primeira banda que eu curti por mim mesmo foi o Aerosmith, isso com 11 anos. Daí conheci Oasis e também gostei absurdamente.

Passou um tempo e quando tinha de 12 pra 13, conheci o Green Day e Offspring, que fizeram eu começar a traduzir letra atrás de letra. Mas foi só mais tarde mesmo, ali com 14 anos, frustrado e puto por não ter passado no vestibulinho da GV, Liceu e Federal, voltando de um acampamento de fim de ano na 8a série que tudo iria mudar mesmo.

Meu amigo Takei, provavelmente o cara que tenho amizade há mais tempo, uns 14 anos já, estava ouvindo o tal CD do bebê pelado no seu grandioso discman. Eu não tinha ouvido até então, aí sentei do lado dele no ônibus e pedi pra ouvir, desde o começo. Deus do céu. Eu não sabia nenhuma letra, nem nada, mas aquilo me pegou em cheio, eu fui cantarolando as melodias e os berros junto com ele, irritando todo mundo no ônibus. Ouvimos o CD todo umas 3 vezes. Cheguei em casa e só pensava uma coisa: Eu precisava daquele CD.

Assim começou, isso foi na virada de 1999 pra 2000. Em 2000 eu virei um protótipo de grunge, foi o ano mais triste e deprê que passei, muito pelo Nirvana mesmo, mas não pela música. Eu lembro que meu pai imprimiu um bolo gigante de folhas do Nirvana, com toda a história, letras, e tudo mais. Foi do caralho ele ter feito isso, apesar dele odiar eu ter entrado nesse universo de bandas, isso foi muito legal da parte dele.

Eu lia e relia aquele monte de coisas, e ali tinham várias frases, histórias e pensamentos do Kurt, coisas que mexem com a cabeça de qualquer um, ainda mais se for adolescente. Ali minha mente mudou, muito dos meus valores mudaram, comecei a ver a vida com outros olhos, as pessoas, as situações todas. Não tenho dúvidas que foi ali que eu virei uns 80% do que sou hoje. No começo foi difícil entender, porra, até hoje tem coisa que é. Mas as músicas, as letras e todas as histórias e frases diziam muito mais do que qualquer um já havia falado.

Hoje em dia talvez eu tenha um apanhado maior de referências e "ídolos", até porque eu mesmo já vivi bastante coisa. Mas mesmo assim, pra mim não existiu cara mais foda no Rock and Roll. Chamem de covarde, de fraco, de péssimo guitarrista/cantor, de junkie. Chamem do que quiser. Mas o final desse filme me fez chorar, mesmo tanto tempo depois de ser realmente fanático pela banda, e isso é difícil de explicar.


[Iggy Pop - "It´s nice to be dead"]

2 comentários:

grunge bejota disse...

nessa minha fase amorosa me peguei cantando "drain you" e só anos depois de ter escutado essa música pela primeira vez, fui atrás de ler a letra. o safado era genial. cacete, fiquei embasbacado como a música que ele escreve tem um tom soturno, mesmo as mais alegres... eu acho nirvana muito bom, foda-se se soa grunginho da led slay hahahaha
xxxxxx

Passa-Mal disse...

"Drain You" é foda, sempre foi uma das minhas favoritas. As letras do Kurt são boas demais, é que por elas não serem tão diretas muita gente acha que é só embromação...

Acho legal como ele deixa esse espaço pra interpretação nas letras e por isso todo mundo consegue se identificar. Cada um leva a letra pro lado que quiser.

Seu grunginho da Led Slay do cacete!